sábado, 22 de agosto de 2015

MANIFESTAÇÃO CULTURAL DO NOSSO ESTADO






O primeiro registro do Tambor de Crioula foi feito por Mario de Andrade, no Maranhão, em sua expedição folclórica pelo Brasil. Os elementos fortemente percussivos e circulares dessa manifestação representam uma resistência cultural dos negros africanos e seus descendentes em solo maranhense. 
Tal manifestação visa à diversão dos participantes por meio da dança, da percussão e do canto, sendo uma criação efetivada pelos descendentes dos negros escravos do nosso estado. Possui elementos que são encontrados em outras manifestações culturais afro-brasileiras, como o uso dos tambores e dos cantos, ambos demonstrando caráter repetitivo e circular. Temos então uma festa-ritual popular, tocada e dançada a princípio só por negros; cantada em língua portuguesa e que, pela sua forma descontraída e animada de ser, já perdura por décadas a fio, resistindo aos preconceitos e às consequências do mundo capitalista moderno.

Sobre o termo punga da imagem acima, pode-se dizer que é o momento do encontro exato entre a dança e a música, ou seja, há a possibilidade das dançantes e dos tamborzeiros brincarem explorando suas evoluções, mas existe um encontro exato entre estes elementos, sentido em ritmo pelo contínuo afastamento e retorno no tempo mais forte da música. Esse tempo mais forte é a pungada, dada pelo tocador do tambor solista ao mesmo tempo em que a mulher marca na dança. 
A maneira de dar a punga varia de dançante para dançante, sendo normalmente caracterizado pelo encontro, ou melhor, uma rápida batida entre as barrigas das mulheres que estão dando a pungada. Esta forma de contato, tida como muito sensual, é muito respeitada nesta dança, sendo também observada em outras manifestações dançantes afro-brasileiras, tida pelo nome de umbigada.




SOBRE A DANÇA...










No tambor de crioula costuma-se respeitar a seguinte regra: apenas as mulheres dançam no centro da roda, e somente os homens tocam a parelha de tambores – formada pelo tambor grande, meião ou socador e crivador. As mulheres se posicionam num semicírculo em relação aos tocadores e toda a manifestação acontece neste diálogo corporal, musical e instrumental entre os participantes. Cada mulher é chamada ao centro, através da Punga (umbigada), onde desenvolve uma espécie de solo em que provoca tanto suas companheiras quanto os tocadores. Tal dança possui forte ligação simbólica com a feminilidade e a fertilidade.  

A dança não requer ensaios. Originalmente não exigia um tipo de indumentária fixa, mas nos dias atuais a dança pode ser vista com as brincantes vestidas em saias rodadas com estampas em cores vivas, anáguas largas com renda na borda e blusas rendadas e decotadas brancas ou de cor. Os adornos de flores, colares, pulseiras e torços coloridos na cabeça terminam de compor a caracterização da dançante. Os homens trajam calça escura e camisa estampada.

A animação é feita com o canto puxado pelos homens com o acompanhamento das mulheres. Um brincante puxa a toada (música) de levantamento que pode ser uma toada já existente ou improvisada. Em seguida, o coro, integrado pelos instrumentistas e pelas mulheres, acompanha, passando esse canto a compor o refrão para os improvisos que se sucederão. Os temas, puxados livremente em toadas, podem ser classificados como de auto apresentação, louvação aos santos protetores, sátiras, homenagem às mulheres, desafio de cantadores, fatos do cotidiano e despedida. 
A coreografia da dança apresenta vibrantes formas de expressão corporal, principalmente pelas mulheres que ressaltam, em movimentos coordenados e harmoniosos, cada parte do corpo (cabeça, ombros, braços, cintura, quadris, pernas e pés). As dançantes se apresentam individualmente no interior de uma roda formada por um grupo de vários brincantes, incluindo dirigentes, dançantes, cantadores e tocadores. Da roda, participam também os acompanhantes do tambor. Todos acompanham o ritmo com palmas.

O tambor de crioula apresenta coreografia livre e variada. A brincante que está no centro é responsável pela demonstração coreográfica principal, mostrando sua forma individual de dançar. No centro da roda, os movimentos são mais livres, mais intensos e bem acentuados, seguindo o compasso dos tocadores.




UM POUCO SOBRE OS INSTRUMENTOS...










O conjunto de instrumentos que acompanha o Tambor de Crioula é denominado pelos seus integrantes de parelha. Os três tambores recebem normalmente as denominações de tambor grande, meião e crivador. Os tambores são afinados ao redor da fogueira, cuja altura do som é estabelecida a partir de cada um com relação aos outros. Isso é feito pelos seus próprios tocadores (coreiros), que repetidamente durante essa fase de aquecimento, percutem seus respectivos tambores até sentirem, pelo som emitido, a afinação ideal.

Quanto à posição dos instrumentos, esses são colocados um do lado do outro, na mesma linha, obedecendo à seguinte ordem de conjunto a partir da direita para a esquerda: grande e matraca, meião e crivador. Os dois últimos ficam assentados num pedaço de madeira cilíndrica, enquanto o grande é apoiado no chão e enlaçado à cintura do instrumentista por uma corda.

Para percutir os tambores, os instrumentistas (coureiros) tomam as seguintes posições: tambor grande – coureiro em pé com o tambor entre as pernas; tambor crivador e meião – coureiro sentado e tambor entre as pernas; matraca – agachado atrás do tambor grande.






ELEMENTOS IMPORTANTES DO TAMBOR DE CRIOULA...












Canto: cada cântico se inicia com um solista que canta toadas de improviso ou conhecidas, repetidas ou respondidas pelo coro, composto por homens que se substituem nos toques e por mulheres dançantes. Os cânticos possuem temas líricos relacionados ao trabalho, devoção, apresentação, desafio, recordações amorosas e outros.


Instrumentos: o conjunto instrumental que produz a música no Tambor de Crioula é chamado de parelha. Inclui básica e obrigatoriamente três tambores de madeira – ou, atualmente, também de PVC – afunilados e escavados, e cobertos com couro, preso por cravelhas. São denominados tambor grande, o solista, meião, que estabelece o ritmo básico de 6/8, e crivador, que realiza improvisos a 6/8. Alguns grupos utilizam-se também de matracas, bastões de madeira que são percutidos aos pares no corpo do tambor maior. Via de regra, o tambor tem um nome, outorgado em muitos casos numa cerimônia de batismo com a presença de padrinhos e “familiares” do tambor.


Dança: uma dançante de cada vez faz evoluções diante dos tambozeiros, enquanto as demais, completando a roda entre tocadores e cantadores, fazem pequenos movimentos para a esquerda e a direita; esperando a vez de receber a punga e ir substituir a que está no meio. A punga é dada geralmente no abdômen, no tórax, ou passada com as mãos, numa espécie de cumprimento. Quando a coreira que está dançando quer ser substituída, vai em direção a uma companheira e aplica-lhe a punga. A que recebe, vai ao centro e dança para cada um dos tocadores, requebrando-se em frente do tambor grande, do meião e o pequeno, e repete tudo de novo até procurar uma substituta.

Vestimenta: para as mulheres, saia de chitão florido, bem rodada, para acentuar o movimento, anágua por baixo da saias, blusa branca de renda, com babado na gola, torso na cabeça, colares, geralmente descalças. Para homens, calça, camisa de botão e chapéu de couro ou de palha.



Comida: a comida na festa de São Benedito adquire uma importância significativa. Distribuí-la não representa apenas alimentar os convidados, mas seguir o exemplo de caridade do santo, demonstrar abundância, superação das dificuldades. E o seu preparo além de unir brincantes e comunidade, revela aspectos fundamentais para a continuidade dessas práticas. O cardápio é popular: galinha, carne de gado e porco, torta de camarão, maçarão, tapioca, farofa, bolos.


Bebida: “Tem a bebida, que no tambor de crioula sem bebida não vai, né. Não é muito, mas não pode faltar, também. A cachaça é só pra esquentar os brincantes, quando não se tem se reclama logo: ‘Ô tambor seco!’” Ivaldo Duarte, do Tambor Proteção de São Benedito. A cachaça também participa de brincadeiras relacionadas ao tambor. “O ‘Não-Seca’ é a maior atração da festa, é um filtro cheio de cachaça com um copinho que pode encher, mas não pode botar fora, se encher tem que tomar! São sete caixas de cachaça, às vezes oito, que a gente gasta de sábado até domingo... Isso é bem antigo” conta Inaldo Pedro, presidente da Associação e integrante do grupo Tambor de Inaldo.












PARA QUEM GOSTOU E DESEJA SABER MAIS SOBRE O TAMBOR DE CRIOULA, PEDIMOS QUE ASSISTA AOS VÍDEOS ABAIXO:
































Links Externos:

http://xn--grupocupuau-v9a.org.br/tambor-de-crioula/
http://www.embap.pr.gov.br/arquivos/File/anais3/daniel_farah.pdf
https://pt.wikipedia.org/wiki/Tambor_de_crioula
http://contatocultural.blogspot.com.br/2010/05/tambor-de-crioula.html

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